segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

- Reabilitação do ligamento cruzado anterior (LCA)

Pois é, em maio de 2011 por pura infelicidade acabei torcendo meu joelho esquerdo jogando futebol. Quando peguei o resultado da ressonância magnética foi "punk", naquele momento pensei que seria melhor não ter conhecimento sobre anatomia, biomecânica, etc e tal, pois assim não ficaria tão em choque. Resumindo estava escrito que rompi parcialmente o ligamento colateral lateral, ruptura de alto grau no colateral medial, ruptura completa do ligamento cruzado anterior, lesão óssea medular no fêmur e na tíbia, mais o derrame articular! ..."simples" assim!!! ...é de chorar "véio"!!! ...enfim, fiquei imobilizado por algumas semanas até dar uma cicatrizada no ligamento colateral medial, depois um mês de fisioterapia pré operatória e enfim a cirurgia no dia 29/07/2011 com Dr. Carlos Frutos. Cirurgia realizada, dei início a fase de reabilitação com a Fisioterapeuta Ana Carolina Villa-Lobos; e posso falar? ...estou "mestre" sobre joelho!!! tudo que aprendi na teoria na disciplina Biomecânica da Reabilitação estou vivenciando na pele!!!

...e por falar em teoria, a Ft. Ana Carolina gentilmente enviou este post sobre reabilitação do LCA; veja na íntegra:

REABILITAÇÃO DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR DO JOELHO

A articulação do joelho é umas das mais lesionadas em todo o corpo, em especial nos indivíduos que participam de atividades esportivas. O ligamento cruzado anterior, também conhecido como LCA, é um dos ligamentos que compõe a articulação do joelho e fornece estabilidade para essa articulação. Esse ligamento se fixa medialmente na tíbia (região anterior) e lateralmente no fêmur (na região poterior).

O LCA é a contenção primária para a translação anterior da tíbia sobre o fêmur. Além dessa função, o LCA também é responsável pelo mecanismo de trava do joelho, pelo controle dos movimentos em varo e valgo do joelho, pelo controle da hiperextensão e por fim, serve como um guia durante os movimentos de flexão e extensão do joelho. O LCA em combinação com o ligamento cruzado posterior (LCP), cria um sistema articulado de quatro barras, no qual o eixo de movimento para flexão e extensão será mantido corretamente, controlando a rotação e o deslizamento da articulação. A ruptura do LCA resultará então, em rotação excessiva da articulação durante a flexão do joelho.

A lesão do ligamento cruzado anterior pode ocorrer sem que haja um contato direto (lesão traumática) com outro atleta. Nesses casos, a lesão pode acontecer quando o atleta realiza um movimento de rotação do joelho com o pé fixo no chão, ao realizar mudanças súbitas de direção ou durante um movimento de desaceleração, movimentos esses que podem ser encontrados em esportes como o futebol, lutas, basquete e outros.

A cirurgia para reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA) só deve ser realizada uma vez que o atleta apresentar mobilidade ativa livre de 0° a 90° de flexão do joelho, ausência ou pouco edema e mínima dor, porém deve ser feita o quanto antes para evitar que a lesão evolua com lesões meniscais e degeneração da cartilagem articular.

O mais comum é fazer a retirada dos tendões do grácil e semitendinoso para usar como enxerto, porém, alguns médicos optam por fazer a retirada do tendão patelar, pois a fase de cicatrização é mais rápida. Um estudo realizado em 2006 mostrou não haver diferença nos testes clínicos feitos após cinco anos de cirurgia, em pacientes com enxerto de tendão patelar e em pacientes com enxerto de tendão do grácil e semitendinoso. Foi observado apenas que pacientes com enxerto de tendão patelar apresentaram maior prevalência de osteoartrose.

REABILITAÇÃO:

Logo após a cirurgia, ainda no hospital, o paciente deve conseguir fletir seu joelho até 90° para então receber alta. Em alguns hospitais existe a possibilidade do uso do CPM, aparelho que ajuda no ganho da flexão do joelho. Com uma semana de pós- operatório o paciente já pode dar início a fisioterapia.

Os exercícios de mobilidade devem ser iniciados imediatamente, concentrando-se principalmente na extensão passiva do joelho para ajudar a prevenir a formação de fibrose intra articular. Além disso, a extensão completa do joelho permite maior facilidade no recrutamento de quadríceps. É importante realizar um trabalho de recrutamento da musculatura de quadríceps com a eletroestimulação (corrente russa ou FES) e contrações isométricas associadas. Mobilizar a patela e as cicatrizes também é importante para facilitar o ganho de flexão do joelho (até a 4ª semana o paciente deve apresentar em torno de 130° de flexão). Exercícios isométricos da musculatura de quadril devem ser iniciados, assim como exercícios de extensão e flexão de tornozelo para ajudar a bombear o edema presente nessa fase.

A partir do 3° mês de pós operatório o paciente deve estar com amplitude de movimento completa tanto para flexão como para extensão. Os exercícios de fortalecimento para quadríceps em cadeia cinética aberta são iniciados e os métodos para manter e melhorar o condicionamento físico são realizados na bicicleta com cargas maiores e na esteira com o inicio do trote. Os exercícios proprioceptivos evoluem com saltos e deslocamentos laterais até se tornarem, no 4° mês, mais específicos para cada esporte.


Nessa fase o paciente já está liberado para realizar o treino de fortalecimento na academia e inicia um treino proprioceptivo mais intenso na fisioterapia (com giros, mudanças súbitas de direção, saltos unipodais,etc.). Do 5° ao 6° mês são iniciados os exercícios pliométricos e o treino do gesto esportivo, para que o atleta retorne gradativamente ao seu esporte. A reabilitação total de reconstrução do ligamento cruzado anterior leva normalmente de 6 a 8 meses.


Ft Ana Carolina Villa-Lobosanacarolina_villalobos@yahoo.com.br


Referências:

1. Heijne, A. Early versus late start of open kinetic chain quadriceps exercises

after ACL reconstruction with patellar tendon or hamstring

grafts: a prospective randomized outcome study. Knee Surg Sports Traumatol Arthroscopic. (2007) 15:402–414.

2. Sajovic, M. Tendon Autografts for Anterior Cruciate Ligament Reconstruction

A Prospective, Randomized Comparison of Semitendinosus and Gracilis Tendon Versus Patellar. The American Journal of Sports Medicine. Vol. 34, No. 12, 2006.

3. Cohen, M. Abdalla, R. Lesões nos Esportes – Diagnóstico, Prevenção e Tratamento.

4. Andrews, J.Harrelson,G. Reabilitação Física das Lesões Desportivas. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

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Não posso deixar de terminar este post sem agradecer:
a Deus em primeiro lugar (sempre);
minha família e namorada (obrigado Eli pelo carinho e ajuda);
Dr. Carlos Frutos;
Ft. Ana Carolina.
OBRIGADO!